A menos de 10 dias dos Jogos, a cidade maravilhosa que virou motivo de chacota em vários lugares do mundo, está quase pronta para receber todos os grandes nomes do esporte, com arenas entregues e obras perto da conclusão. No entanto, algumas promessas da candidatura, como a despoluição da baía de Guanabara, não chegaram nem perto de sua conclusão e ainda houve uma tentativa de se colocar panos quentes em cima. Infelizmente, todos os compromissos olímpicos para o meio ambiente assumidos pelo Rio no dossiê de candidatura para os Jogos Olímpicos de 2016 foram todos descumpridos.

Triste é saber que o que deveria ser prioridade foi deixado de lado pela péssima gestão que temos não só no Rio, mas na maioria das cidades brasileira no que se diz respeito a questões ambientais.

O tratamento do esgoto lançado baía de Guanabara não avançou nem metade do prometido. A lagoa de Jacarepaguá, que margeia o Parque Olímpico, continua fétida e assoreada.
Nem mesmo o plantio de mudas na Mata Atlântica, de simples execução, foi concluído como prometido. O sonho de abrir a Lagoa Rodrigo de Freitas para banhistas foi abandonado.
Dificuldades financeiras, de gestão e até novos critérios justificam o abandono dos compromissos feitos ao COI (Comitê Olímpico Internacional) no Dossiê de Candidatura da Rio-2016. O documento de 614 páginas usava o legado dos Jogos como um dos principais ativos para trazer o evento pela primeira vez para a América do Sul.

Agora, o Rio conta com a sorte e reza para não chover, porque se isso acontecer, uma mortandade de peixe na lagoa que margeia o Parque Olímpico.

“A lagoa não é mais uma latrina. É um túmulo. Tem que rezar para que não chova, não vente, para que os gases não sejam eliminados do interior da lagoa e não gere uma mortandade de peixe na Olimpíada”, disse o biólogo Mário Moscateli, que contribuiu com o plantio de mudas no mangue da região.

 

A retirada de cerca de 5 milhões de metros cúbicos de matéria orgânica do fundo da lagoa ajudaria a melhorar a qualidade da água. A solução definitiva, porém, depende do saneamento básico da região, que ainda lança esgoto sem tratamento na lagoa. Mas sem o saneamento básico em suas casas, mais de 100 mil pessoas de bairros próximos ainda lançarão o esgoto nas lagoas após os Jogos.

 

Baía de Guanabara volta a ser problema nas Olimpíadas de 2016

Baía de Guanabara volta a ser problema nas Olimpíadas de 2016

 

Mas e quais eram os compromissos e linha de trabalho que o Rio deveria ter adotado?

Segundo o Portal da Transparência o programa de sustentabilidade e de meio ambiente dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos 2016 se propôs atuar nas três esferas de governo – Federal, Estadual e Municipal – As ações de sustentabilidade seriam focadas em quatro frentes centrais de trabalho: conservação da água, energia renovável, jogos neutros em carbono e gestão do lixo e responsabilidade social. 

Gestão e tratamento da água

Ações propostas pelo Rio 2016

  • Uso de equipamento de águas cinzas e uso secundário de água de chuva para irrigação para o Programa de Construções Verdes Rio 2016.
  • Instalações do Centro Olímpico de Treinamento (COT), da Vila Olímpica e Paralímpica e do Parque Radical com unidades independentes de tratamento de esgoto.

Compromissos de Governo

  • Assegurados pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (2008) do Governo Federal que define os alvos do tratamento no nível nacional, estadual e municipal, com investimentos de US$ 4 bilhões que já foram alocados aos programas de restauração (Programa de Despoluição da Baía de Guanabara e da Barra – Jacarepaguá) que irão resultar na coleta e no tratamento de 80% de todos os esgotos até 2016.
  • US$ 165 milhões alocados pelo setor privado e pela CEDAE para completar a renovação completa da Lagoa Rodrigo de Freitas, que receberá as competições de Canoagem (Velocidade) e Remo e da Lagoa de Jacarepaguá na Zona da Barra para melhorar a capacidade de dragagem e a qualidade da água para uso dos banhistas.
  • Restauração do curso do Rio Maringá, na Zona Deodoro, através de um programa comunitário.

 

Educação e conscientização ambiental

Ações propostas pelo Rio 2016

  • Programa de Eco-Cidadania Olímpica para promover a sustentabilidade de todos os grupos civis do Rio.
  • Novos Eco-museus: um centro para a educação e a cultura ambiental dentro do Parque Olímpico do Rio, para aumentar a conscientização sobre o legado e medidas dos Jogos para a sustentabilidade ambiental, com apoio das ONGs locais.

Compromissos de Governo

  • Programas ambientais escolares aumentarão a conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas e as maneiras com que indivíduos e comunidades podem combater este fenômeno global, outros programas focarão na proteção das lagoas.

 

Reservas e conservação de energia , uso e gestão de energia renovável

Ações propostas pelo Rio 2016

  • Construções temporárias com geradores autoalimentados por etanol para as operações de radiodifusão.
  •  Piscinas com painéis solares para aquecimento da água no COT e nas instalações de Pentatlo Moderno.
  •  Células fotovoltaicas nos halls do COT para diminuir a demanda de energia para iluminação.
  • Tecnologia Brasileira de ponta de célula de hidrogênio, a etanol, em todas as estruturas temporárias para a iluminação de todas as áreas operacionais.
  • Sistema de Gestão de Energia nos prédios novos para complementar a economia e conservação de energia.
  • Dentro do Programa de Coleta de Óleo Vegetal do Governo Estadual, o óleo coletado na Vila Olímpica e Paralímpica, do IBC/MPC e das instalações será reciclado em biodiesel.

Compromissos de Governo

  • O Programa Nacional para a Produção e a Utilização de Biodiesel no mercado local provocando uma redução considerável da importação de combustível e a melhoria da matriz nacional de energia renovável.

 

Qualidade do ar e Transporte

Ações propostas pelo Rio 2016:

  • 100% da frota de T1-T3 funcionando com etanol.
  • 100% da frota de ônibus públicos com alto uso percentual de combustível limpo (biodiesel etanol).

Compromissos de Governo

  • Um programa de Qualidade do Ar será inaugurado em todo o território nacional pelo Governo Federal, em 2009. Isso levará ao aumento do número de estações de controle, ao aumento do controle das partículas de NO2, SO2 e ozônio, compromissos com o Plano Estadual de Ação pela Redução de Emissões de Gases de efeito estufa, melhorias do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automóveis e redução dos níveis de enxofre no combustível.

 

Proteção do ecossistema e do solo

Ações propostas pelo Rio 2016

  • Análise da contaminação do solo a cada nova obra de construção.
  • Aumento das áreas verdes na cidade através da criação de novas instalações para os Jogos, para eventos culturais e lazer ao ar livre.
  • No COT, no Parque Radical, na Marina e na Lagoa Rodrigo de Freitas, um estudo preventivo será feito para garantir a preservação das regiões naturais da fauna e da flora.

Compromissos de Governo

  • Uma série de programas e leis integradas: o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, a aprovação da Lei Mata Atlântica, o Programa “Zero Desflorestamento Ilegal”, o Fundo de Compensação Ambiental e da Descentralização de Licença Ambiental.
  • Criação do Parque do Carbono onde mais de 24 milhões de árvores serão plantadas.

 

Gestão do Lixo Sólido

Ações propostas pelo Rio 2016

  • 100% das novas construções enviando entulho para novas usinas de reciclagem.
  • Usinas de reciclagem independentes para fluxos separados (recicláveis e orgânicos) nas grandes instalações para reduzir o lixo enviado para os lixões e provocar uma visão de lixo zero.
  • Rio 2016 e as ONGs criarão juntos um programa para reciclar o material dos Jogos tais como o look dos Jogos, o que poderá gerar um lucro adicional para as comunidades envolvidas.

Compromissos de Governo

  • Os governos Municipal e Estadual introduzirão sistemas integrados de gestão de lixo sólido para garantir a reciclagem máxima e lançarão uma nova perspectiva para a reutilização de materiais em todas as fases do evento: através da instalação de bombas de metano nos lixões para produção de energia e produção de crédito carbono, o uso de usinas de construção e de demolição, a destruição de todos os lixões ilegais na cidade até 2010 e a melhoria do Movimento Nacional de Cooperativas de Reciclagem.

 

Reflorestamento, biodiversidade e proteção do meio ambiente e legado cultural

Ações propostas pelo Rio 2016

  • O programa de compensação dos Jogos Neutros em Carbono em um “Parque do Carbono” de 1.360 hectares no Parque Nacional da Pedra Branca onde 3 milhões de árvores serão plantadas em associação com o Instituto Estadual de Florestas, das 24 milhões que serão plantadas no total até 2016.
  • O Parque Radical será inteiramente reconvertido num parque público protegido com um plano intensivo de reflorestamento, reintroduzindo várias espécies da floresta tropical. Este plano indicará residentes locais para manter a sustentabilidade do parque a longo prazo.
  • A reforma paisagista e o reflorestamento do Parque Olímpico do Rio sobre 40 hectares, através de um esforço conjunto entre as comunidades vizinhas, residentes locais e comunidades carentes.
  • Alimentação para a Vila Olímpica e Paralímpica – 100% composta por produtos orgânicos para melhorar a biodiversidade.

Compromissos de Governo

  • Os trabalhos da Educação pela Sustentabilidade da Agenda 21 nas instalações coordenadas pelos Eco-museus não serão apenas concentradas nos esportes integrados e nas atividades ambientais; elas promoverão também as tradições culturais da sociedade multicultural do Rio, a integração de espetáculos de arte (Samba e Capoeira), de tecnologias modernas, de arte de rua criativa e contemporânea através da reciclagem de materiais, o que abrirá novas possibilidades criativas sem comprometer as tradições autênticas.

Se pelo menos metade dos compromissos tivessem sido cumpridos no Rio, com certeza estaria muito próximo de realmente ser a cidade maravilhosa, não só para gringo ver e visitar, mas para seus moradores viverem.

Estamos de olho.